quinta-feira, 17 de setembro de 2015

ESTA CIDADE E OUTRAS

(Jamesson Buarque)


Como quem não desiste, mas assiste de camarote
observa doente o final de julho
este mês de gripes, corizas, resfriados, mês
quando influente fluem signos de fim
imagens de términos, da falta de pés e de mãos
para manter a chama e não se consumir sem lavra
Esta é a cena desta cidade, onde vivem milhares
milhares a quase dois milhões, além de cadáveres
de hoje a de ainda em necrose, de nove meses atrás
como de nove meses quem nascerá

Como quem procura saúde mantendo vícios
sem buscar terapia, tratamento, saída
à sombra de agosto com todos os seus agouros
continua, como quem numa cela ou sob anestesia
errante ou seguindo caminho traçado
indiferente ao binômio vitória e derrota
Esta é a sina desta cidade, onde a urbanidade
acumula-se em certos bairros e ignora as distâncias
senão aquelas que levam a seus centros de consumo
a seus lugares de acontecimento e ficção

Como quem se entope de gordura, açúcar e sal
apenas para filtrar o que era limpo
mantém ruas, avenidas, rios e rede de escoamento
para inchar e desinchar etc. propositadamente
e nessa aderência fúnebre que sempre pulsa
junge barulho, poeira, fumaça, o amor e suas máscaras
Esta é a existência desta cidade, como das outras

quase, igualmente ou mais metropolitanas
de oleosas noites e de crespos dias

corrupta na prática e honesta na maquete

Goiânia-GO


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