Existe muito amor em Belém...
por Cecília Barros Cairo - agosto de 2013 - I DCIMA
Já faz tempo
eu não escrevia, como em meus antigos diários, sobre alguma experiência
pessoal. Mas estive em Belém e Belém me atravessou de uma maneira como nunca
nenhum outro espaço o fez nesses meus caminhos. Alguns poucos dias e as emoções
brotadas na experiência com a cidade e as pessoas são as mais intensas que já
senti. Eu poderia teorizar o momento partindo de uma filosofia que embasa
minhas análises na clínica e mesmo os modos de existir na vida, mas não é isso
que eu preciso fazer. De fato, não posso deixar de classificar Belém como uma
cidade subjetiva, onde as grandes árvores, a quantidade de água imensurável, a
arquitetura que dialoga velhas e modernas construções com tanta leveza, os sons
diversos e os aromas peculiares fomentam, neste conjunto, uma surpresa que tem
sabor de aconchego. Estive em uma Belém que poderia me receber com a obviedade
de um evento de proposta científica. Mas o que Belém me ofereceu foi um
encontro afetivo. Na universidade, a sua composição ultrapassa muros e portas, de
maneira que ela não existe em Belém, é Belém que nela existe. E é isso que
também sentimos nas falas de seus representantes: as pesquisas não tratam de
quaisquer objetos cotidianos; elas apresentam sua própria vida em análise e os
pesquisadores falam do que está cheio o coração. E esse autor revelado em sua
obra é tão bonito!
Eu quis
atrasar os ponteiros pra ficar... Tudo o que eu tenho em mim quis ficar. É um
grande espanto, em meu caso, ter conseguido me abrir pra Belém. O meu corpo,
que não tolera muito bem sensações térmicas muito elevadas, se rendeu ao prazer
do suor e a um cansaço físico tão difíceis quanto prazerosos. É certo que a
cerveja local deliciosa abrandou esses efeitos com os quais lido, costumeiramente,
com intranquilidade. Até agora há quem não entenda tudo isso que estou
sentindo. Minha resposta imediata diz que é necessário encontrar-se com Belém e
sentir suas Ivânias e seus Maurícios, essas joias tão preciosas... É preciso
sentir esse amor que tem Belém como nada tem e nem ninguém.
Eu me tornei
uma árvore dessa floresta que nada tem de misteriosa. Não há desconhecidos em
Belém. Nenhum componente fantástico ou da ordem da irrealidade. Belém só tem
verdade, só tem pele, só tem amor. Não sei por mais quanto tempo vou precisar
sentir tanta saudade. Talvez até, um dia, poder voltar. O adeus deixou pedaços
lá e cá. Mas são penetrantes, adaptativos, coláveis... E por isso eu tenho mais
um milhão de contos pra escrever e um milhão de causos pra contar. Eu vim de
Belém e lá fiquei. Eu trouxe Belém pra os meus dias, meus horizontes, meus amigos
daqui. E vou levar Belém por toda estação pela qual eu passar... bem de
mansinho, pra não perder, pra não assustar, pra não deixar cair.
Existe muito
amor em Belém. O jambu vai tremer na alma como as palafitas que ouviam uma nova
Clara Nunes e como o meu coração que, por enquanto, ainda doi de saudades. O
amor de Belém é um que nunca vou esquecer e para o qual vou correr com os
maiores abraços quando puder.
Existe muito
amor em Belém. E agora ele é meu também... como eu sou dele, navegando qualquer
eternidade.
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